Publicado originalmente em 11 de março de 2020
O presidente fascista do Brasil, Jair Bolsonaro, encerra hoje uma viagem de cinco dias aos EUA depois de assinar um acordo militar entre EUA e Brasil e discutir com o presidente dos EUA, Donald Trump, o aumento das pressões para “mudança de regime” na Venezuela.
Trump e Bolsonaro se encontraram no sábado à noite no resort do presidente dos EUA em Palm Beach, Mar-a-Lago, onde os dois se comprometeram com uma “aliança estratégica” para a defesa da “democracia na região”.
Enquanto as relações comerciais bilaterais estavam na agenda da reunião, fontes da Casa Branca disseram que o principal ponto de discussão foi a campanha de Washington para derrubar o governo venezuelano do presidente Nicolas Maduro e instalar um regime fantoche dos EUA liderado pelo político de direita Juan Guaidó.
Até seus apoiadores ocidentais reconhecem que o apoio popular a Guaidó, que assumiu o cargo de “presidente interino” em janeiro do ano passado e depois encenou uma tentativa de golpe abortivo em abril passado, se dissipou. No entanto, ele recentemente viajou para diversos países buscando angariar apoio para sanções econômicas ainda mais duras contra a Venezuela ou até para intervenção militar.
Um alto funcionário do governo dos EUA informou os repórteres no sábado, pouco antes da reunião entre Trump e Bolsonaro, que o governo Trump estava determinado a implementar uma “espécie de doutrina Monroe 2.0”, referindo-se ao cânone da política externa de Washington no Hemisfério Ocidental lançada há quase 200 anos. Na segunda metade do século XX, a doutrina Monroe serviu de justificativa para uma série de golpes apoiados pelos EUA que levaram ditaduras militares ao poder por grande parte da América Latina com o objetivo de esmagar o movimento revolucionário da classe trabalhadora da região.
A ressurreição dessa doutrina, cuja invocação havia sido abandonada pelas administrações estadunidenses nas últimas décadas por causa de sua longa e sangrenta história, tem como alvo, segundo o funcionário do governo, “atores externos que, francamente, são incompatíveis com muitos valores e coisas que unem todo o Hemisfério Ocidental ... sendo, obviamente, o envolvimento chinês e russo no Hemisfério Ocidental”. Ele acrescentou: “Nós realmente sentimos que o Hemisfério Ocidental é o hemisfério das Américas, para o povo das Américas”.
Em relação à Venezuela, o funcionário disse que “nos próximos dias e semanas, continuará havendo uma escalada em direção à pressão máxima que buscamos e que estabelecemos como nossa política”.
“Felizmente, não precisamos exercer pressão máxima de 100%, mas estamos todos dedicados, juntamente com nossos aliados – Colômbia e Brasil em particular ... a alcançar essa transição democrática ... na Venezuela”, acrescentou. Questionado por um repórter se isso significava ação militar, o funcionário afirmou que “todas essas medidas estão sobre a mesa e todas essas opções estão sobre a mesa”.
O governo de Bolsonaro preparou sua viagem aos EUA com um gesto de apoio à agressão de Washington contra a Venezuela. Ele retirou todo o seu pessoal diplomático do país e ordenou que todos os diplomatas venezuelanos deixassem o Brasil ou seriam expulsos.
A visita do presidente brasileiro à Flórida foi precedida uma semana antes por uma reunião na Casa Branca entre Trump e o presidente da Colômbia, Iván Duque, na qual a discussão também se centrou na Venezuela. Nesta semana, tropas dos EUA foram enviadas à Colômbia para exercícios conjuntos com as forças armadas do país.
O governo venezuelano protestou contra as reuniões consecutivas entre Washington e os dois regimes mais de direita da América Latina. “Por que os Estados Unidos e o Brasil ou os Estados Unidos e a Colômbia devem ter a Venezuela em sua agenda militar?”, perguntou o ministro das Relações Exteriores, Jorge Arreaza, em uma reunião com pessoal diplomático em Caracas. Ele continuou acusando que Washington está preparando um bloqueio naval – um ato de guerra – contra a Venezuela para aplicar as sanções que impôs ao país e à empresa estatal de petróleo PDVSA.
Washington, juntamente com seus aliados em Brasília e Bogotá, está claramente apostando no estrangulamento econômico da Venezuela para desencadear um golpe militar apoiado pelos capitalistas do país que derrubará o governo. O governo Maduro, no entanto, tem implementado políticas destinadas a agradar a elite dominante capitalista do país, eliminando os controles de preços e devolvendo empresas nacionalizadas a proprietários privados, enquanto efetivamente dolariza a economia.
O resultado dessa política tem sido um aumento dramático da polarização social, já que o governo impôs medidas de austeridade contra a classe trabalhadora, que é a principal vítima do crescente bloqueio econômico dos EUA ao país. O impacto dessas medidas e as políticas de direita do chamado governo socialista bolivariano podem desencadear uma explosão de massivos protestos e da luta de classes.
O único resultado concreto da viagem de Bolsonaro foi um acordo assinado no domingo na sede do Comando Sul dos EUA (SOUTHCOM) que agiliza o processo para a indústria de armas do Brasil vender seus produtos ao Pentágono. Na cerimônia de assinatura do acordo, da qual participaram Bolsonaro e o chefe do Estado-Maior Conjunto das Forças Armadas do Brasil, o Tenente-Brigadeiro do Ar Raul Botelho, o comandante do SOUTHCOM, almirante Craig Faller, elogiou o acordo como sendo “histórico”, alegando que ajudaria a enfrentar “ameaças” na região, incluindo a Venezuela.
Faller invocou “nossa parceria de longa data com as forças armadas do Brasil”, uma história sangrenta que inclui o apoio do Pentágono ao golpe militar de 1964 que levou ao poder uma ditadura militar que assassinou, aprisionou, torturou e exilou centenas de milhares de trabalhadores, estudantes e outros opositores do regime.
Bolsonaro, um ex-capitão do exército cuja carreira política foi alimentada como aliado parlamentar do Partido dos Trabalhadores (PT), abraça essa história incondicionalmente.
Ele fez a exposição mais franca de suas visões fascistas em um discurso na segunda-feira diante de um grupo de empresários da Flórida em Miami. Tratando das discussões com Trump sobre a campanha de agressão contra a Venezuela, Bolsonaro disse: “Devemos fazer todo o possível para restabelecer a normalidade na Venezuela, o que não é fácil, dado o grau de degradação moral e política existente naquele país.”
É necessário perguntar: a “normalidade” que Bolsonaro busca restaurar na Venezuela é o equivalente ao que hoje prevalece no Brasil? O país é dominado cada vez mais por um governo comandado por militares e ideólogos de extrema direita. Ele mergulhou em uma crise constitucional após Bolsonaro exigir controle incondicional do orçamento aprovado pelo Congresso e apoiar abertamente protestos contra o Legislativo. Marcados para o próximo domingo, os protestos estão sendo convocados com a palavra de ordem “os generais aguardam as ordens do povo”, um chamado implícito para um golpe militar. A Polícia Militar se amotinou recentemente no Ceará, aterrorizando a população local, com o apoio tácito de Bolsonaro e seus seguidores.
Ele continuou com seu discurso de extrema direita afirmando que as relações Brasil-EUA haviam melhorado porque seu governo “valoriza as Forças Armadas e ... acredita em Deus. Esse é o grande antídoto contra a esquerda que busca escravizar sua população.” Ele se gabou de ter lutado “fortemente” contra a esquerda, não dando a ela nenhuma “trégua ou oportunidade”.
Essa ideologia fascista e anticomunista aproxima Bolsonaro de Trump, que repetidamente chamou por uma cruzada contra o socialismo. Os dois também se uniram em relação à pandemia mundial do novo coronavírus, que Bolsonaro descreveu como uma “fantasia” propagada pela “grande mídia”.
Apesar dessa afinidade ideológica, os interesses do Brasil e dos EUA estão longe de serem idênticos. Por um lado, Trump continuou a ameaçar o Brasil com tarifas sobre o aço e alumínio, enquanto, por outro, a tentativa do presidente dos EUA de pressionar Bolsonaro a rejeitar a oferta da empresa chinesa Huawei para desenvolver a rede 5G no Brasil parece ter surtido pouco efeito.
A China é o maior parceiro comercial do Brasil desde 2009 e a Huawei já possui uma presença significativa no desenvolvimento da infraestrutura de comunicação do país. Rejeitar a Huawei por motivação política não apenas forçaria o Brasil a recorrer a alternativas tecnológicas menos avançadas e mais caras, mas também poderia levar a China a retaliar os principais setores de exportação do país, incluindo o agronegócio. Qualquer que seja o resultado final, o Brasil continuará sendo um campo de batalha na luta geoestratégica cada vez mais amarga entre os EUA e a China.
Enquanto Bolsonaro estava nos EUA, a economia brasileira foi abalada pela guerra global de preços do petróleo, que contribuiu para uma queda de 12% na bolsa de valores do país – a maior queda de um dia desde a crise russa de 1998 – e um colapso de 30% nos valores das ações da gigante estatal Petrobras.
O ministro da Economia, Paulo Guedes, respondeu à crise pedindo “serenidade” e declarando que “a democracia brasileira vai reagir transformando essa crise em avanço das reformas”, o que significa mais ataques às condições sociais da classe trabalhadora brasileira.
O Partido dos Trabalhadores tem respondido à aliança de Bolsonaro com Washington defendendo políticas de “desenvolvimento nacional” e uma política “multilateral” em relação ao imperialismo mundial. Celso Amorim, ex-ministro das Relações Exteriores e ex-ministro da Defesa dos governos dos presidentes Luiz Inácio Lula da Silva e Dilma Rousseff, disse ao Brasil de Fato que esses governos obtiveram relações militares favoráveis não apenas de Washington, mas também da França, que ajudou os militares brasileiros a construírem um submarino nuclear, e de outros países.
O PT, que está lançando seu chamado ao comando militar e a setores dos grandes negócios, rapidamente fechará fileiras com Bolsonaro contra qualquer erupção da luta de classes no Brasil.
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