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Perspectivas

Da pandemia global à luta de classes global

Publicado originalmente em 24 de março de 2021

Mais de um ano depois de a COVID-19 ter sido declarada uma pandemia global, os casos da doença estão mais uma vez aumentando em todo o mundo. Quase 9.000 pessoas estão morrendo todos os dias. Impulsionada pelo surgimento de variantes mais contagiosas, a média de sete dias para novos casos está se aproximando do meio milhão, o que representa um aumento de 40% em relação ao mês passado. Os novos casos aumentaram 8% na semana passada, o quinto aumento semanal consecutivo.

No Brasil, agora o epicentro do desastre, há mais de 2.000 mortes por dia. Os hospitais em todo o país estão lotados. Os necrotérios estão repletos de corpos que não podem ser enterrados.

Funcionários de uma funerária ajudam a remover o corpo de José Bernardino Ferreira, 77, que morreu de complicações relacionadas à COVID-19 em sua casa, em Manaus, no Amazonas, em 22 de janeiro de 2021. O número de pessoas que estão morrendo em casa em meio à nova onda da pandemia está crescendo devido à falta de leitos de UTIs e à escassez de oxigênio. (AP Photo/Edmar Barros)

Uma média de quase 200.000 pessoas são infectadas todos os dias na Europa, e a tendência é que esse número aumente. A Alemanha, França, Itália e Polônia estão em meio a novos surtos, e a Hungria está registrando o maior aumento de internações e mortes desde o início da pandemia.

Nos Estados Unidos, onde mais de 555.000 pessoas já morreram, o número de casos está crescendo em 24 estados americanos, particularmente no Centro-Oeste e Nordeste. Em Michigan, importante centro industrial dos EUA, os casos aumentaram quase três vezes ao longo do último mês.

Apesar do desenvolvimento de vacinas altamente eficazes, não existe um plano sério para vacinar a maior parte da população mundial. Mesmo nos principais países capitalistas da Europa, menos de 5% da população foi totalmente vacinada, enquanto na maior parte da Ásia, América Latina e África, isso aconteceu com uma parcela ainda menor da população.

Duas perspectivas diferentes emergem desta catástrofe sem fim, representando os interesses de duas classes diferentes. A pandemia global está se desenvolvendo cada vez mais abertamente em uma luta de classes global.

Apesar do ressurgimento da doença, os governos, liderados pelos Estados Unidos, estão procurando eliminar todas as medidas para conter a pandemia, exceto a distribuição caótica e descoordenada da vacina. O governo Biden está liderando a campanha para reabrir escolas, manipulando e falsificando a ciência para assegurar que isso aconteça.

O desprezo pela vida humana compartilhada por toda a classe dominante foi resumido pelos delírios fascistas do presidente brasileiro Jair Bolsonaro, que, dirigindo sua raiva a uma população devastada pela pandemia, disse: “Chega de frescura, de mimimi. Vão ficar chorando até quando?”

Fazendo um chamado para o fim de todas as medidas para conter a pandemia, Bolsonaro repreendeu o povo brasileiro. “Até quando vamos ficar dentro de casa, até quando vai se fechar tudo?”, disse. “Ninguém aguenta mais isso, mas tudo isso tem que ter uma solução.”

Agora, como ao longo de toda a pandemia, as necessidades básicas da saúde pública estão sendo subordinadas ao lucro privado e à infinita acumulação de riqueza pela oligarquia. Durante o ano passado, as elites dominantes em todo o mundo disponibilizaram trilhões de dólares, euros e ienes para os mercados financeiros, elevando os valores das ações a níveis recordes. Como resultado direto, a riqueza dos bilionários nos EUA cresceu 1,3 trilhão de dólares, com as elites dominantes internacionalmente recebendo cifras semelhantes.

Milhões de pessoas morreram durante o ano passado. A Organização Internacional do Trabalho estima que o mundo tenha perdido o equivalente a 255 milhões de empregos, enquanto centenas de milhões de pessoas sofreram as muitas consequências econômicas e sociais devastadoras da pandemia. Mas para os ricos, o ano não foi apenas bom; foi ótimo.

Como em todo o resto, a produção e distribuição de vacinas estão sendo subordinadas tanto aos interesses de lucro das elites dominantes quanto aos interesses geopolíticos dos estados-nação capitalistas concorrentes. Enquanto buscavam estocar vacinas, os Estados Unidos injetaram bilhões de dólares nos fabricantes de medicamentos, dando a eles os direitos de patente para pesquisas financiadas publicamente e permitindo-lhes sobrecarregar maciçamente os países em desenvolvimento. Como resultado, os especialistas em saúde pública se preocupam com a possibilidade de que levem anos até que uma parte substancial da população da América Latina e da África seja vacinada.

A classe dominante americana está usando a escassez de vacinas para intimidar e ameaçar seus vizinhos. Mais grave ainda, os EUA estão se oferecendo para enviar doses salva-vidas de suas vacinas para o México com a condição de que aceite abusar e aterrorizar os refugiados que procuram entrar nos Estados Unidos.

Ao invés de dedicar os recursos necessários para combater a pandemia, os países imperialistas estão levando adiante uma enorme escalada militar. Este mês, o Reino Unido anunciou um aumento de 40% em seu estoque de armas nucleares, e os EUA planejam duplicar seus gastos na região Indo-Pacífico para ameaçar a China.

Ao invés de dedicar os recursos necessários para combater a pandemia, os países imperialistas estão levando adiante uma enorme escalada militar. Este mês, o Reino Unido anunciou um aumento de 40% em seu estoque de armas nucleares, e os EUA planejam duplicar seus gastos na região Indo-Pacífico para ameaçar a China.

Essa é a perspectiva da classe dominante. A perspectiva da classe trabalhadora é a luta de classes, o que levanta a necessidade da classe trabalhadora tomar o poder político, expropriar os ricos e transformar as gigantescas corporações e bancos em entidades controladas democraticamente e de propriedade social.

A pandemia tem provocado uma oposição social na classe trabalhadora. Nos Estados Unidos e no mundo inteiro, professores e outros trabalhadores da educação estão lutando contra o retorno inseguro às aulas presenciais. No Marrocos, esta semana, a polícia enfrentou violentamente milhares de professores protestando contra os baixos salários e as más condições de trabalho. Na França e no Reino Unido, surgiram protestos contra a violência policial. No Brasil, os petroleiros realizaram paralisações em refinarias para protestar contra as condições inseguras de trabalho e a propagação descontrolada do coronavírus.

Em todo o mundo, os trabalhadores enfrentam uma luta comum e um inimigo comum. Apesar do desastre criado pelos governos capitalistas, a COVID-19 pode, e deve, ser contida através do fechamento de atividades não essenciais e de uma expansão maciça do rastreamento de contatos, testagem e quarentena, juntamente com um fornecimento urgente e equitativo de vacinas em nível mundial.

A pandemia é global e não pode ser detida nacionalmente. Ela requer a coordenação internacional e o agrupamento de conhecimentos científicos e médicos especializados, que o capitalismo e seu corolário, o nacionalismo, bloqueiam em todos os pontos. Somente a classe trabalhadora pode liderar uma luta internacional contra a COVID-19 unindo suas lutas e dirigindo-as contra o capitalismo.

A implementação deste programa requer uma luta política contra toda a ordem social e econômica. A erradicação do novo coronavírus e de tudo o que dele resultou exige a erradicação do capitalismo.

O Comitê Internacional da Quarta Internacional e suas seções nacionais, os Partidos Socialistas pela Igualdade, são a direção política deste movimento. A perspectiva do CIQI se baseia na necessidade de organização e desenvolvimento de um movimento internacional e revolucionário da classe trabalhadora pelo socialismo. A construção da Quarta Internacional adquire agora uma atualidade candente.

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